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Paulo Behar

Manejo e prevenção de infecções em pacientes asplênicos

Atualizado: 27 de jun. de 2023

Orientações Norte-Americanas, Inglesas e Brasileiras


Texto para Profissionais da Saúde e para o público em geral



Sumário


O baço filtra o sangue e regula a resposta imunológica. A asplenia (ausência de baço) aumenta o risco de infecções graves e sepse. Febre em pacientes asplênicos é uma emergência médica. O tratamento inclui atendimento médico imediato, antibióticos empíricos e terapia antibiótica direcionada quando o organismo causador da infecção é conhecido.

A prevenção envolve educação do paciente, vacinação, antibióticos profiláticos eventualmente e precauções durante viagens. Pacientes asplênicos devem ser vacinados contra bactérias específicas e receber vacinação anual contra influenza (gripe), além das recomendações vigentes também para covid-19. Viajantes devem tomar precauções para prevenir certas infecções.

Por fim, considerações específicas são feitas para pacientes que recebem assistência no Brasil.




Visão geral e recomendações



Contexto

O baço desempenha funções críticas para filtrar o sangue e regular a resposta imunológica. A asplenia pode ser congênita (raramente), adquirida devido à esplenectomia cirúrgica ou funcional devido a uma variedade de distúrbios, mais comumente a doença falciforme. Pacientes com asplenia apresentam maior risco de infecções graves e sepse, geralmente causadas por organismos encapsulados, como Streptococcus pneumoniae.

Estes pacientes também podem ser predispostos a infecções graves com Haemophilus influenzae tipo b (agora raro em alguns países devido à vacinação), Staphylococcus aureus; bactérias gram-negativas incomuns.Febre em um paciente com asplenia é considerada uma emergência médica, devido ao potencial de rápida progressão para sepse.


Manejo

Aconselhe pacientes com asplenia e qualquer doença febril ou com sintomas graves sem febre a procurar atendimento médico imediato. Antibióticos empíricos devem ter como alvo Streptococcus pneumoniae. A ceftriaxona é uma escolha empírica razoável para pacientes com aparência não grave.

Mude para terapia antibiótica direcionada quando o organismo infectante e a susceptibilidade antimicrobiana forem conhecidos.


Prevenção

A prevenção de infecções em pacientes com asplenia envolve educação do paciente, vacinações, antibióticos profiláticos para pacientes selecionados e considerações especiais para viagens. Os pacientes devem ser informados sobre a função do baço, sepse e sinais de infecção, o papel das vacinas e antibióticos e infecções relacionadas a viagens. Pacientes com asplenia devem ser vacinados contra Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae e Neisseria meningitidis, bem como receber vacinação anual contra influenza. Viajantes devem notificar os médicos sobre viagens e tomar precauções para prevenir infecções como malária e babesiose.


Prevenção de Infecções


Educação

Pacientes asplênicos e seus familiares devem estar cientes de que febre pode representar uma emergência médica. Por isso devem ser aconselhados a contatar o médico e procurar atendimento médico imediato no início de qualquer doença febril ou na vigência de sintomas graves mesmo sem febre.

Outras recomendações:

- procurar avaliação imediata em caso de mordida de cão ou outro animal

- tomar medidas preventivas adequadas ao viajar

- ter informações aos pacientes asplênicos sobre a função do baço, sepse, incluindo sinais e sintomas de infecção

- vacinas profiláticas



Vacinas


Recomendações da Infectious Diseases Society of America (IDSA) para a vacinação de pacientes com asplenia ou com doença falciforme (2013)


- pacientes com asplenia ou doença falciforme

- ≥ 2 anos de idade devem receber PCV13 e PPSV23 ≥ 8 semanas após PCV13 e uma segunda dose de PPSV23 cinco anos depois

- 1 dose da vacina Haemophilus influenzae tipo b (Hib) para pessoas não vacinadas ≥ 5 anos de idade

- revacinação com MCV4 (ou MPSV4 para aqueles > 55 anos de idade que não receberam MCV4) é recomendada a cada 5 anos


- para pacientes PPSV23-naive ≥ 2 anos de idade para os quais uma esplenectomia está planejada

- PPSV23 deve ser administrada

- ≥ 2 semanas antes da cirurgia OU

- ≥ 2 semanas após a cirurgia


- contatos domiciliares imunocompetentes de pacientes com asplenia (ou outra imunocomprometimento)

- podem receber com segurança todas as vacinas inativadas

- podem receber as seguintes vacinas vivas

- sarampo, caxumba, rubéola (MMR)

- vacina rotavírus

- vacina varicela

- vacina zoster

- vacina febre amarela

- vacina oral contra a febre tifoide

- não devem receber vacina oral contra poliomielite

Referência - Clin Infect Dis 2014 Feb;58(3):309


Recomendações do British Committee for Standards in Haematology (BCSH) 2011 para pacientes com baço ausente ou disfuncional


Todos os pacientes com hipoesplenismo funcional ou histórico de esplenectomia devem receber

- vacina pneumocócica

- vacina Haemophilus influenza tipo B (se não imunizado previamente)

- vacina meningocócica conjugada (se não imunizado previamente)

- vacina influenza anual


fatores associados ao alto risco de doença pneumocócica invasiva em pacientes com hipoesplenismo incluem

- idade ≤ 16 anos ou > 50 anos

- resposta sorológica inadequada à vacina pneumocócica

- histórico de doença pneumocócica invasiva

- esplenectomia para malignidade hematológica, particularmente no contexto de imunossupressão


pacientes que desenvolvem sinais ou sintomas de infecção, apesar da profilaxia, devem ser prontamente admitidos no hospital e receber antibióticos sistêmicos

- considerar vacina meningocócica A e C polivalente para proteção de curto prazo em pacientes em risco (como viagens ao exterior)

- administração de vacinas


todas as vacinas devem ser administradas ≥ 2 semanas antes da esplenectomia, se possível, ou 2 semanas após a esplenectomia

as vacinas devem ser administradas o mais rápido possível após o reconhecimento do hipoesplenismo não cirúrgico, mas o agendamento específico pode ser necessário no contexto da recuperação da imunossupressão


Referência - British Committee for Standards in Haematology guideline on prevention and treatment of infection in patients with absent or dysfunctional spleen (Br J Haematol 2011 Nov;155(3):308).


Recomendações do Ministério da Saúde do Brasil


Vacinas para pessoas com condições clínicas que apresentam maior suscetibilidade a infecções de diversos tipos (Manual dos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais - CRIE)


Pessoas com outras condições de risco associadas que requerem imunobiológicos especiais: asplenia anatômica ou funcional, hemoglobinopatias, doenças de armazenamento e outras condições associadas à disfunção esplênica


Infecções graves por germes encapsulados, principalmente Haemophilus influenzae tipo b, pneumococo e meningococo, são frequentes nesses pacientes.


Embora não haja problema no controle de infecções virais para esses indivíduos, a varicela pode representar um fator importante para invasão bacteriana secundária, com aumento significativo da morbidade e mortalidade.


Em pacientes que serão submetidos à esplenectomia eletiva, a vacinação deve preceder o procedimento cirúrgico por um período mínimo de 14 dias. Pacientes que já passaram por esplenectomia apresentam melhor resposta à vacinação a partir de 14 dias após a cirurgia, mas a oportunidade de vacinar deve ser considerada uma prioridade na decisão de quando vacinar. Além das vacinas de rotina, esses pacientes precisam de vacinas contra varicela, hepatite A, influenza inativada e germes encapsulados: pneumococo, meningococo e Haemophilus influenzae tipo b.


No Brasil, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) é reconhecido por sua excelência pela Organização Mundial da Saúde. Portanto, uma boa estratégia é revisar o cartão de vacinação do paciente e recomendar que ele visite um dos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE) para revisar novamente seu histórico de vacinação e administrar vacinas de acordo com o PNI. Em Porto Alegre, RS, Brasil, há dois locais:


- CRIE Hospital Materno Infantil Presidente Vargas Endereço: Av. Independência 661, Bairro Independência, Porto Alegre/RS. Aberto de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h.

- CRIE Hospital Sanatório Partenon Endereço: Av. Bento Gonçalves, n°. 3.722, Bairro Partenon, Porto Alegre/RS. Aberto de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h.


A vacina recentemente aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) (2022) para herpes zoster, é também recomendada. Como ela não consta ainda no PNI, encaminhar para vacinação em clínica particular de vacinação.



Principais pontos do artigo

  • Pacientes asplênicos têm maior risco de infecções graves e sepse, geralmente causadas por organismos encapsulados, como Streptococcus pneumoniae.

  • O manejo de infecções em pacientes asplênicos inclui educação do paciente, vacinação, antibióticos profiláticos para pacientes selecionados e considerações especiais de viagem.

  • As vacinas recomendadas para pacientes asplênicos incluem Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae e Neisseria meningitidis, bem como uma vacinação anual contra a gripe. E ainda devem ser seguidas as recomendações quanto à covid-19.

  • No Brasil, encaminhe o paciente a um CRIE para atualizar a sua imunização e para vacinação contra Haemophilus influenzae tipo b, pneumococo e meningococo. Encaminhe o paciente a uma clínica particular de vacinação para ser administrada a vacina contra herpes zoster.



Dicas do blog


1. Revisa detalhadamente a história de doenças infecciosas prévias e o histórico vacinal do paciente.


2. Mantém contato estreito com os colegas médicos e outros Profissionais da Saúde que estão colaborando no caso, principalmente o médico assistente do paciente.


3. Dá um retorno estruturado por escrito ao colega que pediu a avaliação, se for o caso.


4. Para isso, pára um pouco e consulta facilmente os calendários de vacinação no Brasil: todos os calendários de modo geral https://sbim.org.br/calendarios-de-vacinacao e o de pacientes especiais https://sbim.org.br/images/calendarios/calend-sbim-pacientes-especiais.pdf que e mais relacionado a este artigo.


5. Lembre de quais vacinas são disponibilizadas pelo SUS, conforme o PNI e quais não estão na rede pública, de modo que o paciente possa ser orientado aos locais de vacinação.


6. Atenção ao surgimento de febre.


7. A história vacinal dos familiares e de outros contatos frequentes, deve ser também registrada.



Paulo Behar

CRM/RS 15273 — RQE 08068



Referências

Approach to Management and Prevention of Infections in the Asplenic Patient — DynaMed

MINISTÉRIO DA SAÚDE (BRASIL) MANUAL DOS CENTROS DE REFERÊNCIA PARA IMUNOBIOLÓGICOS ESPECIAIS. 5a edição . Brasilia DF 2019. https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_centros_imunobiologicos_especiais_







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