Caxumba comprometendo a glândula parótida esquerda com Edema, Rubor, calor e dor
Definição
Doença febril aguda cursando com edema doloroso de glândula(s) salivar(es). Doença viral de evolução geralmente benigna, sistêmica, infecto-contagiosa, caracterizada por febre e aumento de volume de uma ou mais glândulas salivares, geralmente a parótida. Pode acometer também outros sítios anatômicos, por isso a preferência do termo caxumba frente ao termo Parotidite Epidêmica. Houve em 2016, a ocorrência de casos/surtos e em Porto Alegre. Houve inclusive predomínio dos casos na faixa etária de 15 a 19 anos, em pessoas vacinadas.
Agente etiológico
O vírus da caxumba pertence à família Paramyxoviridae, gênero Paramyxovirus.
Período de incubação
O período de incubação é de 12 a 25 dias, sendo, em média, de 16 a 18 dias.
Transmissão
A transmissão é direta de pessoa a pessoa, pela via aérea, por gotículas de saliva, ou por contato direto com saliva de pessoas com caxumba.
Tipo de precaução da transmissão
Precaução Por Gotículas e Precaução de Contato
Período de transmissibilidade
Segundo a Disciplina de Infectologia da UFCSPA e o Serviço de Doenças Infecciosas da Santa Casa (Ref. Egomar Edelweis et al., abaixo) , o contágio faz-se desde 7 dias antes do edema da parótida até a sua regressão quase total, em média 10 dias. Outra forma de abordar o ponto é como o Guia de Vigilância, que informa que o período de transmissibilidade varia entre 6 a 7 dias antes das manifestações clínicas até 09 dias após o surgimento dos sintomas.
História natural
Sinais e sintomas sistêmicos
Presença de pródromo com mal estar, febre, mialgias é constante, variando em intensidade entre os pacientes. Os sintomas mais comuns são febre, cefaléia, mialgias, cansaço, diminuição do apetite.
Sinais e sintomas de localização
Parotidite: habitualmente há febre precedendo o aumento da parótida em 1 a 2 dias, sendo rara a apirexia neste período da doença. Em 1/3 dos casos, a tumefação é unilateral. Nos outros 2/3, pode haver acometimento sucessivo (mais frequente) ou concomitante das duas parótidas. A pele sobre estas glândulas se torna luzidia e quente. A orelha externa é deslocada para fora, podendo ser também para cima. O aumento de volume da glândula alcança o seu máximo em 2 dias e regride em 7 a 14 dias. Pode haver também edema da gengiva e da região cervical. Procura-se observar se há hiperemia e edema do óstio do ducto da parótida (Stenon). Uma manobra utilizada é a observação, sob iluminação com lanterna e afastamento da bochecha com abaixador de língua, da eliminação ou não de saliva pelo óstio do ducto da parótida na altura do segundo molar superior, enquanto se faz compressão da parótida com a mão. A manobra faz escoar um líquido seroso, mais um achado que corrobora o diagnóstico de caxumba. Habitualmente há xerostomia, sendo excepcional a sialorreia. Pode haver dor ao deglutir, dor auricular espontada, dor nas lojas parotídeas, dolorimento à palpação e ao ingerir substâncias ácidas. Parotidite ocorre em 60% dos casos de caxumba.
Manobra para observar o óstio do ducto de Stenon
Outras glândulas salivares: é habitual o aumento em grau moderado das glândulas submandibulares.
Adenopatias cervicais ocorrem ocasionalmente podendo simular a adenopatia da difteria maligna (bull neck). Edema pré-esternal já foi descrito.
Orquite ou orquiepididimite: habitualmente surge 7 a 10 dias após o acometimento das parótidas. Pode surgir concomitantemente ou sem agressão parotídea viral. 18 a 20% dos jovens acima de 12 anos, com caxumba, desenvolvem orquite. Em 75% das vezes é unilateral. Em quase metade dos casos há atrofia testicular, sendo rara porém, a esterilidade. O quadro clínico de orquite se caracteriza por elevação da temperatura, intensa dor testicular, aumento de volume do testículo e quadro tóxico. Hidrocele é rara.
Ooforite: também pode ocorrer.
Meningoencefalite: em geral surge na fase regressiva da parotidite. menos de 10% dos casos dão sintomas perceptíveis. Pode ser a única manifestação da caxumba. É em geral benigna, com regressão total dos sinais e sintomas em 5 a 7 dias. Os sinais e sintomas são semelhantes aos das demais meningoencefalites virais.
Pancreatite: em geral leve, assintomática é quase a regra. Aproximadamente 15% dos casos apresentam sinais e sintomas de pancreatite: dor epigástrica, náuseas, vômitos, abdome agudo, choque, etc. Pancreatite grave é excepcional.
Diagnóstico
O diagnóstico é principalmente clínico-epidemiológico, não sendo rotineiramente solicitados testes sorológicos.
Exames complementares
Nem cultura do vírus, nem PCR são rotina. Pode ser solicitada sorologia (IgM e IgG).
O hemograma não é específico, sendo observada mais frequentemente leucopenia com linfocitose relativa. Nos casos de orquite, pode haver leucocitose importante.
Meningoencefalite: o LCR mostra pleocitose moderada com predomínio de mononucleoses, hiperproteinorraquia e normoglicorraquia.
Pancreatite: a amílase está elevada mesmo na ausência de pancreatite por causa do acometimento parotídeo. A elevação é em grau moderado. Na pancreatite franca, atinge a lípase taxas significativas (500 ou mais unidades). Elevação de lípase.
Tratamento
Específico: não existe medicamento antiviral específico.
Demais medidas gerais recomendadas: anti-sepsia bucal, repouso principalmente para jovens masculinos púberes, antipirético, analgesia.
Para orquite: suspensão escrotal continuamente até regressão do edema; analgésicos potentes, corticosteroides para pacientes acima de 10 anos, até alívio da dor, com retirada gradual convencional. Se dor intratável: infiltração do cordão espermático com lidocaína 1%.
Seguimento
Observação cuidadosa quanto à possibilidade de aparecimento de complicações.
Idealmente, pacientes com doenças infecciosas febris agudas devem ser avaliados diariamente. Recomendação válida para boa parte dos casos, mas não todos. Considerar individualmente caso a caso. Pacientes com complicações devem ser hospitalizados.
Orientações
Contatos devem procurar avaliação médica e/ou a Vigilância Epidemiológica.
Imunização
O calendário básico de imunizações do Sistema Único de Saúde (SUS) passou a contar, a partir de setembro de 2013, com a vacina tetravalente viral que inclui a imunização contra a varicela (catapora), além de sarampo, caxumba e rubéola, já contempladas na triplica viral. A vacina tetra viral é recomendada em dose única, para crianças de 15 meses a 23 meses e 29 dias, desde que a criança já tenha recebido a primeira dose da tríplice viral, respeitando o intervalo mínimo de 30 dias entre as doses e nascido a partir de 01/06/2012.
A SMS de Porto Alegre recomenda a vacina tríplice viral aos 12 meses e a tetra viral aos 15 meses de idade.
A vacina não é indicada em quem já teve caxumba, mas em vacinados contactantes de pacientes com caxumba menores de 20 anos podem procurar uma Unidade de Saúde da SMS (Posto de Saúde) e solicitar a sua vacinação, que consistirá de 2 doses. Maiores de 20 anos receberão 1 dose.
Notificação
Não é doença de notificação compulsória. A ocorrência de surtos deve ser notificada.
Caxumba costuma apresentar-se sob a forma de surto devendo ser notificados os casos individuais através da Ficha de Notificação Individual do SINAN (modelo disponível em http://lproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/cgvs/usu_doc/15062015_sinan_net_individual-pg1.pdf). Os surtos devem ser notificados por telefone para a Equipe de Vigilância de Doenças Transmissíveis (EVDT) para verificar a necessidade de bloqueio vacinal. Doenças de notificação compulsória: (51) 3289-2471 / 2472 / 2473 / 2474. E-mail: epidemio@sms.prefpoa.com.br.
Links úteis
Vigilância em Saúde em Porto Alegre
Calendário de Vacinação
Vacina Tetravalente Viral
Diminuição do efeito da vacina ao longo dos anos pode explicar surtos de caxumba, dizem especialistas. Entrevista com Epidemiologista da CGVS e com Infectologista da UFCSPA/Santa Casa. Camila Kosachenko, Zero Hora, 05/04/16.
Referências
EVDT. CGVS. SMS de Porto Alegre. Alerta Epidemiológico: Caxumba. Porto Alegre, 17 de novembro de 2015. Disponível em:
Acessado em 05/04/2016.
CDC.Mumps. Disponível em http://www.cdc.gov/mumps/about/signs-symptoms.html. Acessado em 05/04/2016.
Egomar L. Edelweiss, Sofia M. Martins, Cezar A. Aldabe, Vanderlei Severo. Caxumba, Parotidite Epidêmica. Pesquisa Médica, Porto Alegre, 11(2):89-94, 1976.
Guia de Vigilância. Manual Epidemiológico. Aplicativo. PEBMED INSTITUIÇÃO DE PESQUISA MÉDICA E SERVIÇOS TECNOLÓGICOS DA ÁREA DA SAÚDE S.A. © PEBmed. Acessado em 05/04/2016.
Dicas do blog
Avalia todos os contatos buscando meios para identificar precocemente pacientes com risco potencial de desenvolver a doença
Caxumba é geralmente uma doença leve, mas pode causar muito incômodo ao paciente por muito tempo especialmente quando ocorrem complicações. Não subestima esta doença. São necessárias visitas frequentes para observar a evolução clínica do paciente. Hoje em dia, isto está facilitado pela possibilidade de alguns atendimentos poderem ser por teleconsulta.
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